Quanto custa um console retrô no Brasil?



Vendo jovens imersos em seus smartphones o tempo todo, me pego pensando em como o mundo deles é diferente do que eu cresci. E se você, assim como eu, está na faixa dos trinta e tantos anos, com certeza cresceu num mundo onde a peça de eletrônica mais incrível que se tinha acesso era um videogame. No meu caso tive a oportunidade de jogar, e muito, um Odyssey (Philips, 1983) na casa de amigos dos meus pais.






Será que você lembra do comercial?



No melhor espírito de O Primeiro Console a Gente Nunca Esquece, tive a sorte de um dia reencontrar essa relíquia do passado em uma lojinha empoeirada que sempre visito. Ele estava ali, e seria meu pela bagatela de 50 reais. Mas, digamos que eu não tivesse tido essa sorte toda, quanto eu gastaria se quisesse muito ter um Odyssey em casa? Esta pergunta pode ser estendida a qualquer outro console retrô que você tenha aquela dose de nostalgia especial para você. Já a resposta, esta não vai te deixar feliz. Isto porque colecionar os chamados retrogames no Brasil é uma história a parte, repleta do “jeitinho brasileiro” de fazer negócio e uma boa dose de Lei de Gérson por parte dos lojistas. Sim, eu disse lojistas já que a febre dos colecionáveis retrô da origem a um excelente nicho de mercado, e não há nada de errado nisso. Nos Estados Unidos, ponto de origem da maioria dos videogames de outrora, a cultura das retrogames stores é algo inspirador. Lojistas que entendem da história de cada peça e pedem por elas um preço justo. O mercado é tão interessante que até mesmo a gigante americana dos games, a Game Stop, voltou a comercializar jogos e consoles antigos. Por exemplo, você pode comprar online um Dreamcast, favorito dos fãns da SEGA, por 50 dólares, eu até te dou o link. Antes de clicar, saiba que a Game Stop não entrega fora dos EUA. Porém, você pode usar um serviço como o Punto Mio, onde você usa um endereço americano e esta empresa envia sua encomenda para você. Eles até oferecem uma calculadora para te ajudar a prever valores de correio e impostos. Então, vamos fazer uma simulação: esse Dreamcast de 50 dólares chegaria na minha mão por 145 dólares (95 só de envio e impostos!). Uau, colecionar retrogames é caro! Ainda mais quando levamos em conta os valores astronômicos do dólar hoje (vou arredondar para 4 reais), esse Dreamcast não sai por menos de 580 reais. É uma pequena fortuna mesmo… melhor dar uma espiada no Mercado Livre… O que? 700 reais por um em mesmas condições que na Game Shop (sem caixa, nem manual), e ainda por cima fabricado em solo nacional? E esse valor nem inclui o frete! (cara de indignação!) É, entende onde quero chegar? Todo brasileiro sabe que esta é a terra dos impostos injustos, e é por isso que quando fica mais barato comprar algo no exterior do que aqui no Brasil, pagando duas empresas intermediárias (cada uma teve seu lucro), com direito a transporte aéreo, no momento de maior alta do dólar desde que eu joguei aquele Odyssey, fica óbvio que estamos sendo explorados. Este exemplo do Dreamcast não é à toa: venho namorando um destes para minha coleção há quase dois anos. E sabe o que? Já estive lá, numa loja americana, com ele em mãos por 50 dólares, faltando só enfiar na mala! E não trouxe por causa da alta do dólar. Sendo assim, é claro que não vou pagar nem 580, nem 700 reais para comprar ele aqui. Mas o exemplo serve para ilustrar o contraste que vivemos, mais um dos inúmeros reflexos do Brasil e seu custo. E é com essa imagem que voltamos à pergunta original: Quanto custa um console retrô no Brasil? A resposta é simples, citando a Casas Bahia:

Quer pagar quanto?

É isso mesmo! Lembre-se de que nosso modelo econômico é o da livre concorrência e se ninguém paga por um preço abusivo é o lojista que precisa se conformar. Por outro lado, enquanto houver demanda, quem determina os preços são eles. Por isso avalie bem antes de comprar e não deixe o glitch do retrogame controlar seus impulsos. Veja bem que não estou dizendo que o comércio de retrogames não deveria existir, muito pelo contrário! Existem lojas no Brasil, tanto físicas quanto virtuais, que são ótimas e me fazem um cliente fiel e satisfeito. Mas fique esperto porque elas são as verdadeiras raridades aqui, não os jogos. Em geral, os lojistas batem os olhos nas cifras exorbitantes do eBay e se esquecem que só porque alguém pede um valor pelo item, não significa que vá conseguir vender. O preço é o que se paga, e não o que se pede. Site como o videogames.pricecharting.com ajudam muito nestas horas.

Quanto àquele console que você tanto quer na sua coleção, bem... "tem dia que não é dia" de comprar um Dreamcast que está ali, na sua mão. Outros dias você encontra um tesouro de um Odyssey encoberto por 20 anos de poeira. Faz parte do jogo.



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Esse é a primeira postagem do meu novo blog, Sprite Gamers. A ideia é manter um canal de comunicação e discussão sobre este hobby incrível e suas peculiaridades quando se trata de Brasil. Ao mesmo tempo, quero indicar fontes interessantes de conhecimento retrô na internet, por isso a quantidade de links no texto. E aqui vão mais alguns!






Sabe aquele glitch que eu citei a pouco? Ele leva à playlist do YouTube chamada "Son of a Glitch", que ensina a usar inúmeras falhas dos jogos antigos a seu favor! A lista faz parte do canal A+Start. Se você gostar, não se esquece de clicar em "inscrever" para saber quando novos vídeos surgirem na lista.

A imagem que usei no post é da capa do jogo "Didi na mina encantada", uma das primeiras localizações oficiais de um jogo para o público brasileiro. Uns dez anos antes de Mônica no Castelo do Dragão e quando a Pitty era muito criança para poder assistir a um Fatality, a Philips adaptava Pick Axe Pete, traduzindo o manual e inserindo Didi Mocó no lugar do mineiro Pete na capa. Esta é a capa original:






Mesmo assim, rendeu um divertido review do jogo feito por Mark Bussler em seu Classic Game Room (avaliando games e assessórios desde 1999). É muito legal ver um falante em inglês dizendo "Didi na mina encantada"! Segundo ele, "vocês brasileiros gostam tanto de seus comediantes que os trancam em minas!".  Assista e, se gostar, assine o canal dele:



Se nunca ouviu falar do que é um Odyssey, o modelo brasileiro é na verdade o Odyssey2, já que o Odyssey original é considerado o primeiro videogame do mundo! Quer saber mais? Visite este blog incrível feito para a comunidade brasileira. Foram eles que postaram o comercial do Odyssey: odysseybrasil.blogspot.com.br

Comentários

  1. Deixei seus comentários! Que consoles você curte? Quanto você pagou pelo último que comprou? Você já se sentiu explorado por algum lojista mercenário?

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